terça-feira, 29 de janeiro de 2013

António Polena: 'Negócio foi feito à base de pressões'

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O vice-presidente do Belenenses e administrador da SAD para o futebol abandonou os cargos em desacordo com a venda da SAD a investidores que têm em Rui Pedro Soares o rosto principal.

Em entrevista ao SOL, António Polena explica que se demitiu dos cargos que ocupava no Belenenses em protesto contra o negócio «desastroso» da venda, a investidores privados, da SAD para o futebol. Rui Pedro Soares, antigo administrador da PT, e os seus parceiros compraram 46,93% das acções por 469 euros e lançaram entretanto uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) às restantes. Na última Assembleia-Geral (AG) do clube, a 4 de Novembro, os sócios tinham dado luz verde às negociações e não à venda, denuncia António Polena.

Por que decidiu deixar o clube no mês passado?
Lutei internamente, e só hoje estou a falar em público, para que este negócio não fosse possível. O Beleneneses é dos sócios e eles não sabem o que se está a passar. Foi-lhes transmitido na última AG que teriam a palavra final e não está a ser assim.

Mas nessa AG os sócios não deram carta branca à direcção para negociar a venda de 60% a 80% das acções da SAD do Belenenses?
Os sócios deram poderes à direcção para negociar com a Codecity Sports Management e o senhor Rui Pedro Soares a entrada destes investidores no capital social da SAD. E foi-lhes transmitido pelo presidente da Mesa da AG do Belenenses que assim que houvesse acordo entre clube e investidores a última palavra seria dos sócios. E mais: seria necessário um parecer do Conselho Fiscal, órgão autónomo do clube, sobre o potencial do contrato. Esse parecer ainda hoje não existe.

Mas o acordo já está formalizado.
Foi assinado à base da pressão dos investidores. Tínhamos uma dívida ao clube Avaí, do Brasil, e o caso estava na FIFA e já nos limites. O Belenenses foi indagado a pagar um determinado valor e, se não o fizesse, a primeira consequência era perder seis pontos e, se continuasse a não pagar, desceria de divisão. Isto foi a base da AG: ‘Temos esta solução, os investidores vão liquidar a dívida’.

Ou seja, na origem da venda da SAD do Belenenses está uma situação de desespero financeiro.
Foi este o contorno do negócio: ou se assina isto, ou não se paga aquilo. Ou se faz assim, ou não se faz.

Qual era o valor da dívida ao Avaí?
Cerca de 270 mil euros. É muito dinheiro, não digo que não, mas o Belenenses e os seus sócios não podem ser humilhados por 270 mil euros. São valores absolutamente ridículos e que têm como garantia receitas futuras dos direitos televisivos. É uma humilhação.

O que exige? A marcação da tal AG que diz ter ficado prometida?
É obrigatória. Mas o presidente da Mesa da AG, o dr. Carlos Pereira Martins, está a ser muito pressionado para não a marcar.

Pelos novos accionistas?
Só digo que está a ser muito pressionado.

O que o incomoda no negócio?
É gravemente lesivo do futuro do Belenenses. Porque o acordo obriga o clube a responder perante dívidas que são da SAD do futebol. A SAD terá outros accionistas, que vão defender os seus interesses como um negócio que é. E o clube não terá capacidade financeira para pagar as dívidas.

Por exemplo?
As dívidas ao Estado. Se o Belenenses subir à 1.ª Liga e enquanto lá estiver, tudo bem. É a SAD que as paga. Mas se estiver na 2.ª Divisão, como agora, é o clube. São 3 milhões de euros que estão a ser pagos mensalmente, a 15 anos, ao Fisco e Segurança Social.

Há mais?
O principal credor do Belenenses é o BANIF. Tem a haver 5 milhões de euros, que estão contratualizados a 15 anos. Esse dinheiro é dívida do clube e custa 500 mil euros ao ano, mas mais de 90% da verba foi canalizada para a SAD. O empréstimo foi feito através do clube porque era o único que tinha garantias para dar, como os terrenos de 11 hectares numa das zonas mais caras de Lisboa.

Como ficará agora a gestão desse complexo desportivo com os novos accionistas da SAD?
Há muitos contornos do contrato que são difíceis de entender e esse é outro. A SAD passou a ter o usufruto do estádio por tempo indeterminado. E o clube, que é o detentor do estádio e dos terrenos, tem de pedir autorização para fazer o que quer que seja. E se a SAD não autorizar? Também é estranho que a Codecity Sports Management tenha entre os seus sócios uma empresa de construção.

Poderão querer fazer alguma obra?
Mas onde? Os terrenos são do Belenenses. Por enquanto.

E como estão as piscinas?
O complexo das piscinas está completamente fechado. Com esta conjuntura não há volta a dar.

O clube pode falir?
Pode surgir um cenário desse género. O que se passa hoje no clube, e não na SAD, é que nem há capacidade para a despesa corrente.

Entre clube e SAD, qual é o total da dívida?
A SAD tem um passivo de cerca de 8 milhões de euros e o clube de cerca de 12. O grande problema do Belenenses foi ter descido à 2.ª Divisão. Os sócios afastaram-se e não há receitas. Na 1.ª Divisão não há problema se mantivermos o rigor orçamental que hoje existe.

A subida à 1.ª Liga, que está bem encaminhada, é a salvação?
O Belenenses só é viável na 1.ª Divisão. E se mantiver a actual gestão rigorosa, sem criar loucuras. Subindo, praticamente todo o passivo da SAD fica pago.

E o do clube?
É bem mais complicado. Só tem viabilidade se estiver casado com o futebol, numa gestão conjunta e contínua. Caso contrário, vai ficar desgraçado, o termo é este.

O presidente da SAD e do clube é o mesmo, António Soares.
Hoje é. Mas amanhã pode não ser. O presidente e a direcção do Belenenses estão a ser enganados. O presidente foi empurrado para este cenário, do qual sei que não é partidário, e ficou de mãos atadas.

Acredita na boa fé do presidente?
Tem feito um excelente trabalho. Foi ele que me convidou e reduzimos os custos no futebol de 1,8 para 1,2 milhões de euros esta época. É o orçamento mais baixo de sempre. Era o único caminho para a sobrevivência.

Que alternativa propõe à venda da SAD?
Existem condições financeiras para o Belenenses ter sustentabilidade, mantendo o clube como o maior accionista da SAD. Os salários desta época estão regularizados. A solução é seguir por este caminho, conjugando rigor orçamental com resultados desportivos e encontrar os parceiros ideais. Não há que ter medo do futuro.
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